segunda-feira, 8 de junho de 2015

A base sustenta a "filosofia Medalhão Pereba"

                 Cadê o cascalho? João Paulo é mais um que vai sair  (foto: Ag Estado)

O futebol brasileiro, entre várias de suas peculiaridades, tem como um dos principais destaques negativos a "filosofia" do "tem que contratar", geralmente com atletas sem mercado nos centros mais avançados da Europa, ex-jogadores em atividade ou destaques do interior com várias passagens apagadas em clubes grandes, com pouca chance de vingar sob imensa pressão. São os famosos "medalhões perebas", ou apenas perebas que não atingiram o status de medalhão. Essa filosofia tem um efeito imediato para aplacar a cobrança da torcida, que se sente mais segura, confortável, confiante, com autoestima elevada na medida em que seu clube do coração traz baciadas de "reforços". O Palmeiras é o melhor exemplo dos primeiros meses de 2015. 

Só que o futebol é dentro de campo, os resultados podem demorar a vir, a folha de pagamento inchada vence todo mês e o círculo vicioso se instala. Um medalhão pereba de time grande ganha entre 200 e 400 "quilos de alcatra" (a moeda do Vampeta) em média. Um absurdo, do ponto de vistão da boa gestão. Como equacionar isso? Nossos técnicos, com raras exceções, adoram um medalhão, uma contratação. Detestam ter que usar a base, lapidar um jovem com potencial. Dá trabalho e a maioria deles, os treineiros, tem uma formação pífia para exercer a função. Quando, não, alguns deles preferem usar as contratações por motivos inconfessáveis.  Aí é que surge a base, a salvação da lavoura do futebol brasileiro.

Como temos vários bons trabalhos de base no Brasil, a produção de jogadores não é um grande problema. Pelo contrário, já que só temos competitividade com nossas seleções de base e adulta pela qualidade individual que se produz em terras tupiniquins. Além disso, os melhores profissionais das comissões técnicas, sobretudos os técnicos, estão nas categorias de base dos clubes mais estruturados. Feita a ressalva, uma receita rápida para os clubes conseguirem pagar o salário dos medalhões (e perebas) é fatiando ou vendendo suas pratas da casa a esmo. Não faltam casos.

Para ilustrar a situação vamos pegar o caso do Santos: Em 2008 e 2009 times muito fracos, cheios de "pés de rato" contratados sem nível algum para jogar num clube dessa dimensão, crise aguda, perigo de rebaixamento, quando começam a surgir os talentos jovens. Em 2010, os talentos jovens explodem, o time encanta, ganha títulos, atletas da base se valorizam, pegam seleção sub-20 e principal, meio mundo vem atrás fazer ofertas. Em 2011 e 2012 suga-se o bagaço da laranja e vão saindo um a um os jovens por quantias interessantes, assim como o bom futebol do time some, para voltar a se investir em contratações de medalhões perebas e perebas. Em 2015, agora, volta a ameaça do rebaixamento, e a contratação de "pés de rato" está a todo vapor. A base irá salvar mais uma vez?

Por outro lado, o Inter, com um técnico gringo, o uruguaio Diego Aguirre, encontrou a solução em casa para os problemas do time, mas sem estar em crise, no caos administrativo, no momento em que não há outra saída. A gestão colorada é bastante consistente nos últimos 10 anos e o momento é bom, inclusive participando da Libertadores. Ele, simplesmente, escala os melhores, pratica a malfadada meritocracia de fato, e não no discurso de técnicos que mais parecem "projetos de Rolando Lero". E os melhores no atual semifinalista da Libertadores são os garotos da base  Quem apostaria em William, Gefferson, Rodrigo Dourado e Valdívia #pokopika como titulares e com destaque na maior competição do continente em janeiro? Um deles já está na seleção principal.

Contratar não é ruim, desde que se faça com critério, planejamento, com uma rede de observadores técnicos (olheiros) que seja competente. Trazer jogadores com potencial para explodir, especialmente, sempre será importante. Não é o que ocorre no futebol brasileiro. A predominância é um festival de contratações de atletas sem grande nível que oneram o clube,  que ilude a torcida e prejudica, inclusive, a afirmação daqueles que podem, realmente, fazer a diferença. O Neymar artilheiro e vencedor da Liga dos Campeões e o golaço de Coutinho contra o México , outrora vendido a troco de bala pelo Vasco, mostram o que tem que ser a referência de um futebol brasileiro forte. Não serão os "pés de rato" e "perebas".